sábado, outubro 14, 2006

OI MORTE


Um dia desses, eu vi a morte. A vi caminhando sem destino, despreocupada, relaxada. Tão tranqüila tão sossegada e perdida que mais desatenta que ela, só ela mesma.
A morte desceu os sete degraus da escada com seus longos e negros cabelos e sua cara pálida. Atravessou o corredor branco do sanatório, Sá! Vestindo preto e, sorriu para mim. Olhei de cara com a morte e sorri também. No corredor branco há muitas pessoas, mas a morte não olha e nem fala com ninguém. Ela sorri para mim, eu sorrio para ela. Conversamos, rimos, nos abrimos. Constato o quanto à morte é ingênua. Ela é ingênua e pequena. Pequena e infantil. A morte é de boa e do bem. Faz cara de mau para intimidar. Faz pirrélheas de matar. É uma criança perdida e inocente que não sabe o que esperar.
A morte não é um bicho. Ela não é feia, nem é um monstro. Seus sentimentos são sinceros, uma inocência quase maternal. Sua aparência não é das melhores, mas mesmo assim é encantadora. Morte morte morte. Porque tão penoso é para você, Morte morte morte - Entendo essa sua cara. Morte morte morte, és pura e casta num mundo perverso e devasso.
Morte sem trilho, sem brilho, ignorante, virgem, parece até que é triste. Sabe dos baratos da vida. Os baratos que se descobrem com a vida. A VIDA! A Morte morte morte. O que seria da vida sem a morte? (UMA TOTAL INCERTEZA) Mas... O que seria da Morte sem a vida?
Sem graça!!! Não seria isso uma piada. Ah... talvez a mesma merda ou a mesma garantia, de que tudo continuará a mesma merda já garantida.
Alienada e só, vive um mundo próprio, um mundo que não sabe o que é pó.
A morte é saudável, é amiga e é confiável, não é como a vida com seus truques e o moloko em solução injetável. A Morte só não é tão sã quanto parece ser - porque - a morte é honesta e sua presença é fatal. Porém é boba. Uma tonta sem destino. Chega sem saber como chegou e vai sem saber menos ainda. Vai seguindo o caminho em paralelo ao desespero da vida.

Um comentário:

Anônimo disse...

As Intermitências da morte de José Saramago